O filósofo Olavo de Carvalho, num debate famoso com o professor
marxista Alaor Caffé, definiu o marxismo como uma cultura, no sentido
antropológico: “Um universo inteiro, um complexo inteiro de crenças,
sÃmbolos, discursos, reações humanas, sentimentos, lendas, mitos,
sentimentos de solidariedade, esquemas de ação e, sobretudo,
dispositivos de autopreservação e de autodefesa”.
Para Carvalho, sendo o marxismo uma cultura, na acepção antropológica do termo, qualquer crÃtica a ele não é digerida pelos seus adeptos, uma vez que o marxismo está “acima dos padrões de racionalidade que ele mesmo cria”. “Sendo o marxismo uma cultura, todas as mentiras que ele venha a dizer não podem ser impugnadas no campo doutrinal, evidentemente. Porque, ou nós as impugnaremos no campo moral e, a cultura estando acima da moral, rejeitará nossa argumentação como irrelevante, ou nós argumentaremos em nome da ciência, da racionalidade etc., e a cultura como um todo jamais poderá se colocar sob a fiscalização da moral e dos bons costumes”. Atesta, Olavo, brilhantemente. Pegue alguns elementos desses – crenças, sÃmbolos, mitos, lenda, sentimento de solidariedade, esquemas de ação e dispositivos de autopreservação e de autodefesa – e projete na ideia polÃtica encarnada, recentemente, no paÃs. Você vai chegar, inevitavelmente, ao lulismo, esse fenômeno cultural deletério que insiste em nos assombrar, dia após dia. A crença. Crê-se, pois, que Luiz Inácio, sozinho, apesar das iniciativas dos que o antecederam, fincou raÃzes profundas de estabilidade econômica, de superação de uma economia atrasada, arcaica, atrelada ao capital externo e ao FMI. Na concepção do lulismo, tudo isso, por meio do Operário, foi superado por medidas gestadas e concebidas pela sua mente divinal. Aqui se apela aos domÃnios da fé. SÃmbolos, mitos e lendas. O lulismo, neste ponto, é insuperável. O Operário que lutou contra a elite atrasada, que redefiniu a claudicante democracia tupiniquim, emprestando a ela um verdadeiro caráter popular. O Filho de uma analfabeta, oriundo das tórridas terras nordestinas, esquecidas pelo coronelato e o baronato das elites patrimonialistas do sul maravilha, conduziu-nos a um novo patamar civilizatório. O mito se fez onipresente. Discursos. O discurso não poderia ser diferente. A ideia, embutida nas falas, não é fazer o contraponto. Ao contrário. A ideia é destilar ódio contra adversários, destruir reputações. É eliminar o outro, não só do debate. Por isso, a famosa frase vocalizada pelo mito contra o DEM, num comÃcio Brasil afora. Era preciso extirpar o “partido-belzebu”, e não confrontar suas ideias, por ruim que fossem. A narrativa perfeita para uma cultura perniciosa de um jeito peculiar de fazer polÃtica. Solidariedade, autopreservação e autodefesa. A pedra de toque de toda cultura. Percebam que filósofos, intelectuais, polÃticos tidos como honestos, cidadãos comuns, sem titubear, saem em defesa desabrida quando o lulismo sofre os ataques. É quase uma ofensa de ordem pessoal. Os olhos rútilos e os lábios trêmulos dos defensores do lulismo são caracterÃsticas marcantes que irrompem automaticamente e se plasmam nas faces nada coradas dos adeptos. É preciso manter intocável a ideia concebida pelo lÃder messiânico, preservando sua imagem sacrossanta. Essa é a cultura polÃtica vigente no paÃs. Opor-se a ela é quase um ato de profanação, digno de quem não entendeu, ainda, o caráter libertário do lÃder que concebeu uma nova nação, criada por ele para abrigar somente os que entenderam e encarnaram suas boas-novas. É triste. |
quarta-feira, 5 de dezembro de 2012
A sanha do Lulismo
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