quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

A sanha do Lulismo


O filósofo Olavo de Carvalho, num debate famoso com o professor marxista Alaor Caffé, definiu o marxismo como uma cultura, no sentido antropológico: “Um universo inteiro, um complexo inteiro de crenças, símbolos, discursos, reações humanas, sentimentos, lendas, mitos, sentimentos de solidariedade, esquemas de ação e, sobretudo, dispositivos de autopreservação e de autodefesa”. 

Para Carvalho, sendo o marxismo uma cultura, na acepção antropológica do termo, qualquer crítica a ele não é digerida pelos seus adeptos, uma vez que o marxismo está “acima dos padrões de racionalidade que ele mesmo cria”. 


“Sendo o marxismo uma cultura, todas as mentiras que ele venha a dizer não podem ser impugnadas no campo doutrinal, evidentemente. Porque, ou nós as impugnaremos no campo moral e, a cultura estando acima da moral, rejeitará nossa argumentação como irrelevante, ou nós argumentaremos em nome da ciência, da racionalidade etc., e a cultura como um todo jamais poderá se colocar sob a fiscalização da moral e dos bons costumes”. Atesta, Olavo, brilhantemente.


Pegue alguns elementos desses – crenças, símbolos, mitos, lenda, sentimento de solidariedade, esquemas de ação e dispositivos de autopreservação e de autodefesa – e projete na ideia política encarnada, recentemente, no país. Você vai chegar, inevitavelmente, ao lulismo, esse fenômeno cultural deletério que insiste em nos assombrar, dia após dia.
 
A crença. Crê-se, pois, que Luiz Inácio, sozinho, apesar das iniciativas dos que o antecederam, fincou raízes profundas de estabilidade econômica, de superação de uma economia atrasada, arcaica, atrelada ao capital externo e ao FMI. Na concepção do lulismo, tudo isso, por meio do Operário, foi superado por medidas gestadas e concebidas pela sua mente divinal. Aqui se apela aos domínios da fé.
 
Símbolos, mitos e lendas. O lulismo, neste ponto, é insuperável. O Operário que lutou contra a elite atrasada, que redefiniu a claudicante democracia tupiniquim, emprestando a ela um verdadeiro caráter popular. O Filho de uma analfabeta, oriundo das tórridas terras nordestinas, esquecidas pelo coronelato e o baronato das elites patrimonialistas do sul maravilha, conduziu-nos a um novo patamar civilizatório. O mito se fez onipresente.

 
Discursos. O discurso não poderia ser diferente. A ideia, embutida nas falas, não é fazer o contraponto. Ao contrário. A ideia é destilar ódio contra adversários, destruir reputações. É eliminar o outro, não só do debate. Por isso, a famosa frase vocalizada pelo mito contra o DEM, num comício Brasil afora. Era preciso extirpar o “partido-belzebu”, e não confrontar suas ideias, por ruim que fossem. A narrativa perfeita para uma cultura perniciosa de um jeito peculiar de fazer política.
 
Solidariedade, autopreservação e autodefesa. A pedra de toque de toda cultura. Percebam que filósofos, intelectuais, políticos tidos como honestos, cidadãos comuns, sem titubear, saem em defesa desabrida quando o lulismo sofre os ataques. É quase uma ofensa de ordem pessoal. Os olhos rútilos e os lábios trêmulos dos defensores do lulismo são características marcantes que irrompem automaticamente e se plasmam nas faces nada coradas dos adeptos. É preciso manter intocável a ideia concebida pelo líder messiânico, preservando sua imagem sacrossanta.

Essa é a cultura política vigente no país. Opor-se a ela é quase um ato de profanação, digno de quem não entendeu, ainda, o caráter libertário do líder que concebeu uma nova nação, criada por ele para abrigar somente os que entenderam e encarnaram suas boas-novas. 

É triste.

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