segunda-feira, 1 de outubro de 2012

"Sou um sobrevivente do Carandiru", relata ex-detento que ajudou a carregar corpos

“Sou um sobrevivente daquele massacre no Carandiru”, conta Sidney Francisco Sales, 45, ex-detento da Casa de Detenção de São Paulo. Ele acredita que escapou da execução pelos policiais por um milagre. Sales estava preso há quatro anos e, no dia do massacre, estava em uma das celas no quinto andar do Pavilhão 9.

“Para as pessoas que sobreviveram ali, creio eu, milagrosamente, [aquele dia] estará sempre marcado em sua memória. Pior ainda é para aquelas pessoas que perderam seus entes queridos. Essas sim deveriam receber subsídios e ter a atenção do Estado e serem respeitadas”, falou à "Agência Brasil".

Sales tinha 19 anos quando foi preso em flagrante por roubo de carga de caminhão, em setembro de 1989. No dia 2 de outubro de 1992, testemunhou o que ocorreu no Carandiru e até ajudou a carregar alguns dos corpos dos detentos para o caminhão que faria o transporte até o IML (Instituto Médico-Legal).

Anos depois, ao sair do Carandiru, Sales voltou ao mundo do crime. “Quebrei o voto que a minha mãe tinha feito. Quando fui para a porta do mercado [de trabalho], exigia-se a qualificação. E eu, queimado pelos raios solares (Sales é negro) e sem nenhuma qualificação para o mercado, a sociedade não me quis. E eu não quis a sociedade”, contou.

O retorno ao crime foi marcado por outra tragédia pessoal. “Foi então que, num confronto [com a polícia], tomei diversos tiros e fiquei paraplégico. Aí a situação piorou muito mais. Passei a usar droga demasiadamente e me tornei dependente químico. Fui abordado [pelos policiais] e preso novamente com uma quantia de drogas”, lembrou. Na época, Sales chegava a consumir 50 gramas de crack por dia.

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