"Sou um sobrevivente do Carandiru", relata ex-detento que ajudou a carregar corpos
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Marcelo Camargo/Agência BrasilSidney Sales participou de evento em São Paulo que lembrou os 20 anos do episódio que deixou 111 presos mortos em 2 de outubro de 1992
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“Para as pessoas que sobreviveram ali, creio eu, milagrosamente, [aquele dia] estará sempre marcado em sua memória. Pior ainda é para aquelas pessoas que perderam seus entes queridos. Essas sim deveriam receber subsídios e ter a atenção do Estado e serem respeitadas”, falou à "Agência Brasil".
Sales tinha 19 anos quando foi preso em flagrante por roubo de carga de caminhão, em setembro de 1989. No dia 2 de outubro de 1992, testemunhou o que ocorreu no Carandiru e até ajudou a carregar alguns dos corpos dos detentos para o caminhão que faria o transporte até o IML (Instituto Médico-Legal).
Anos depois, ao sair do Carandiru, Sales voltou ao mundo do crime. “Quebrei o voto que a minha mãe tinha feito. Quando fui para a porta do mercado [de trabalho], exigia-se a qualificação. E eu, queimado pelos raios solares (Sales é negro) e sem nenhuma qualificação para o mercado, a sociedade não me quis. E eu não quis a sociedade”, contou.
O retorno ao crime foi marcado por outra tragédia pessoal. “Foi então que, num confronto [com a polícia], tomei diversos tiros e fiquei paraplégico. Aí a situação piorou muito mais. Passei a usar droga demasiadamente e me tornei dependente químico. Fui abordado [pelos policiais] e preso novamente com uma quantia de drogas”, lembrou. Na época, Sales chegava a consumir 50 gramas de crack por dia.
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