quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Um festival e um gesto de amor

Caros, escrevi esse texto quando da realização do primeiro festival de sanfona em SRN. Transcrevo-o.
Parecia uma noite qualquer do final do mês de agosto em São Raimundo: palco e barracas armados, um mundaréu de gente circulando na avenida, após expiarem os pecados nas novenas dedicadas ao santo padroeiro, e um bocado de pequenos comerciantes expondo suas pertenças em barracas psicodélicas.
Um olhar mais atento, porém, revelava que algo de novo estava por acontecer naquela pacata, festiva e religiosa cidade.
No palco, um senhor de carapinha embranquecida, anunciava, como um mensageiro, as boas novas. E falava e falava, conclamando a todos para o novel acontecimento.  Assemelhava-se àquelas figuras pitorescas que, no alto de um caixote, em praça pública, anuncia a volta do Messias.
Sua silhueta esguia, seu olhar rápido e seu raciocínio ligeiro – uma espécie de Quixote sertanejo – emprestavam a ele uma aura de anunciação. Os acordes que viriam pelos dedos rápidos e cirúrgicos de jovens e maduros sanfoneiros tilintaram noite adentro.
Esse senhor, “evangelizador”, era nada menos do que Cineas Santos, artífice das coisas impossíveis, mestre em dar vida aos eventos culturais de nossa terra. Foi ele que comandou o “I FESTIVAL NACIONAL DE SANFONA DE SÃO RAIMUNDO NONATO”.
As pessoas - jovens, adultos e crianças - fixavam os olhos, dilatavam os ouvidos e, boquiabertos, esperavam o primeiro toque de sanfona verberar.
Quatro noites foram suficientes para mudar o jeito de ser de uma cidade que caminha para os cem anos. Acostumados a eventos nababescos e estéreis, que ocorrem em seus festejos, a cidade de São Raimundo Nonato experimentou algo diferente.
E não há nada mais alentador do que experimentar o novo, ainda mais quando ele vem com o propósito de mexer com as raízes, com o sistema de valores de um povo submetido, constantemente, a subculturas impregnadas de provocações chulas, erotismo barato e apelos idiotizados de músicas de baixo calibre.
O poder público de São Raimundo Nonato acertou em tudo: no tipo de evento, na organização perfeita dele e na escolha do “animador”, que soltava loas inconfundíveis e divertia o público provocando-os, no bom sentido.
Vida longa ao festival e aos seus organizadores que deram um passo importante na tentativa de resgatar nossas raízes mais profundas.
O  SRNnoticias apóia incondicionalmente a cultura e, com esse texto, pretende homenagear a todos que construíram esse grande evento, que não passou de um gesto de amor pela cidade e pelo seu povo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário