Joaquim Barbosa candidato à Presidência??? Eis uma forma de tentar desacreditar o ministro
O
petismo sabe fazer duas coisas com destreza inigualável: manchar
reputações e levá-las. Por óbvio, mancha as que estão limpas, limpa as
que estão sujas. Essa inversão moral sintetiza um jeito de fazer
polÃtica. Os petistas, Lula e José Dirceu em especial, estão furiosos
com Joaquim Barbosa. Não! As suas restrições não têm nenhuma relação com
o temperamento eventualmente difÃcil do ministro, com a sua tolerância
às vezes muito estreita com o contraditório, com seu estilo meio irado.
Eu mesmo já chamei a atenção para certos aspectos de sua conduta que me
parecem um pouco além da prudência. Não é isso que fere a sensibilidade
dos companheiros.
Eles estão
bravos com Joaquim Barbosa porque achavam e acham que ele é um devedor
do petismo. Afinal, se foi o Apedeuta quem o indicou, como ousa agora o
ministro — um negro!!! — se voltar contra os petistas? O detalhe nada
irrelevante é que Barbosa não se voltou contra petista nenhum! Ele
apenas se apegou à lei. Isso não é novidade. A nova onda contra Joaquim
Barbosa, agora, é declará-lo um presidenciável; alguém que teria se
deixado picar pela mosca azul e que está de olho na cadeira de Dilma
Rousseff.
Trata-se
de uma sandice, de uma bobagem, de uma especulação despropositada. Ainda
que o ministro, por conta do mensalão, seja aplaudido em locais púbicos
— enquanto um ou outro colegas seu são vaiados —, não há o menor
indÃcio, evidência ou sinal de que ambicione uma carreira polÃtica. Não
que não pudesse. Está no pleno gozo de seus direitos polÃticos e pode,
se quiser, renunciar à sua cadeira no Supremo e disputar um cargo
polÃtico. Mas será que ele o fará?
Com quem
anda falando Joaquim Barbosa? Quais são os seus interlocutores
polÃticos? Que relação ele mantém com os partidos polÃticos? Como
transita nos corredores do poder? Que partido lhe daria a vaga de
candidato? O PT? Não! Já está ocupada. O PMDB? Não! Já está com Dilma
Rousseff? O PSB? Se tiver candidato próprio (coisa de que duvido), será
Eduardo Campos. O PSDB? A vaga está prometida para Aécio Neves. Quer
dizer que Joaquim Barbosa, contra todo o establishment polÃtico, sem
tempo na televisão — porque não teria — e sem articuladores no
Congresso, poderia se lançar candidato à Presidência?
Trata-se, é
evidente, de uma campanha de queimação de Barbosa. Que coisa espantosa!
Essa gente não brinca mesmo em serviço. José Dirceu e seus amigos são
insaciáveis. Lutaram para que não houvesse julgamento; quando ficou
claro que haveria, lutaram para que se desse depois da eleição; quando
ficou claro que ocorreria antes, lutaram para transformar o STF num
tribunal de exceção. Agora que o Zé está condenado por formação de
quadrilha e corrupção ativa, lutam para desmoralizar Joaquim Barbosa —
na reta final, na hora da dosimetria. A inferência é óbvia: como o
ministro alimentaria eventuais ambições polÃticas, seus votos, então,
teriam de ser vistos à luz dessa possibilidade.
PolÃticos
costumam ficar satisfeitos quando seus respectivos nomes integram lista
de presidenciáveis. Barbosa, que não é polÃtico, tem todo o direito de
se zangar. Espalhar essa possibilidade, a esta altura do julgamento, é
uma forma de desacreditá-lo, de sugerir que ele não tem isenção para
julgar ninguém. A inferência é que se comporta como um juiz de exceção,
de olho na própria carreira.
“Você
garante, Reinaldo, que Barbosa não pensa nisso?” Eu??? Eu não garanto
nada sobre ninguém! Não sou nem Ãntimo nem confessor de Joaquim Barbosa.
O que posso assegurar é que, até agora, ele se comportou dentro dos
limites legais na relatoria da, como é mesmo? “Ação Penal 470”. Tratá-lo
como presidenciável é só mais uma forma de tentar desmoralizar o seu
trabalho. Ainda que venha ou viesse a ser candidato um dia, pergunto:
isso mudaria a natureza dos crimes cometidos pelos mensaleiros?
Barbosa será, sim, presidente, mas do STF. O resto é especulação de quem está com a corda no pescoço.
Nenhum comentário:
Postar um comentário