quarta-feira, 14 de novembro de 2012

STF, PT e a natureza humana






A decisão do STF, que condenou políticos da cúpula do Partido dos Trabalhadores, apresenta-se como um paradigma, uma baliza para um país que precisa, sem mais demora, atacar o mau pantagruélico, que é a corrupção, devoradora de esperanças e fomentadora dos vícios mais perniciosos que nos afligem.

A decisão foi extremamente importante porque foi gestada num ambiente institucional democrático, plural e transparente, emprestando ao ato toda uma significação tamanha, que acaba por lançar uma fagulha de esperança na luta, inglória, empreendida contra a devassidão do dinheiro público.

Os réus esperneiam. Ótimo! É assim que funciona. Se fosse vedado o direito deles de espernear, não estaríamos desfrutando das delícias de uma democracia. Eles apontam a mídia, os monstros da direita reacionária e a própria Corte Maior como golpistas. Entendemos a ira: faz parte do direito inalienável de se expressar e politizar o fato, tentando retirar a importância jurídica da decisão.

E como os réus do núcleo político pertencem a uma agremiação que está há mais de dez anos no poder, o alarido reverberado por eles alcançam uma dimensão gigante - uma trovoada, fazendo-se ouvir por todos os quadrantes do país.

Não deve ser fácil, imagino. Líderes, que se diziam a encarnação de um novo mundo possível, sendo condenados por tentar fraudar a própria democracia, deve doer muito. É uma dor acompanhada de uma perda sem precedentes: de um discurso ético que serviu de esteio para o crescimento e a consolidação de uma ideologia, de um, como é mesmo?, “jeito petista de ser”.

Mas é isso. O petismo não está só nesse barco. Todas as outras agremiações já fazem isso desde que o mundo é mundo. O petismo retardou um pouco, mas não se conteve e se embrenhou nas delícias da corrupção. Aproximou-se e, como um narciso às avessas, foi engolido pela própria imagem, que um dia tentou ser imaculada.

O STF fez um bem ao país. Não é, no meu entender, a aurora dos tempos do combate a corrupção. É um passo importante, pois o supremo “disse” até onde pode ir os que estão na cúpula das organizações políticas, com base nas provas e nas teorias que conformam o ordenamento jurídico pátrio.

Pode até ser que, daqui pra frente, decisões outras relativizem, esmaeçam essa recente decisão. E o que seria um passo seguro, retorne à condição de claudicante, de trôpego. De qualquer forma, é interessante observar e presenciar esse momento por que passa o país.

Num futuro, poderemos mostrar aos nossos filhos que o nosso país passou por um processo traumático de julgamento da obra de um tal presidente-operário, que se fez mito, e que, por isto, demonizou seus adversários como ninguém, confiado que a sua obra é maior do que qualquer coisa que aconteceu desde  as origens dos tempos.

O PT perdeu o debate ético – sua bandeira maior. E não foi seu adversário-mor – PSDB – que o venceu. Perdeu pra si mesmo, perdeu para sua natureza, que não é diferente da dos outros. Uma natureza corrompida, eivada de contradições e de máculas, que ultrapassa discursos, origens e os coloca frente a frente com as suas próprias fraquezas. 


Zeferino Júnior

Nenhum comentário:

Postar um comentário