Vídeo sobre cotas prega o confronto racial e de classes. Ou: Como estatais, potentados do capitalismo e igrejas cristãs financiam o ódio racial
Está
no Youtube um vídeo detestável intitulado “Cotas. Essa conversa não é
sobre você”. Trata-se, lamento dizer, de puro lixo racista. A linguagem
apela ao confronto, à guerra racial e ao confronto de classe. E é
mentiroso também porque omite um dado essencial da lei de cotas
recentemente aprovada. O “outro” com o qual se confronta a atriz negra
são os “queridos estudantes brancos, de classe média, que fazem cursinho
pré-vestibular particular”. É preciso ver para crer. Num dado momento,
somos apresentados a este texto:
“(…) Quando você diz que, na verdade, os seus pais pagam o curso somente porque trabalham tanto ou porque você ganha uma bolsa pelas boas notas que tira, eu não me comovo. Não me comovo mesmo! O que me comove é que muitos outros pais trabalham muito mais do que os seus e recebem muito menos por isso”.
Assistam. Volto em seguida.
Nem vou me
ater à caricatura que se faz dos “brancos de classe média com iates”
porque há um limite da boçalidade que nem a crítica alcança. O que o
vídeo omite de essencial é que a política de cotas estabelece uma
hierarquia entre os pobres e transforma indivíduos e suas competências
em categorias. Quando se decide que vagas destinadas a alunos da escola
pública serão distribuídas segundo o perfil racial dos respectivos
estados, cada indivíduo se torna ou vítima ou beneficiário de uma
percentagem pela qual não pode responder. Acho, e todos sabem, a
política de cotas um erro em si. Mas há, então, esse erro dentro do
erro, que faz com que pobres sejam preteridos em favor de pobres em
razão da cor da pele. O que esse texto espantoso não responde é por que
um branco pobre seria mais culpado pelas desigualdades que há no Brasil
do que um preto pobre. Tudo bem! O Supremo também não respondeu…
Eu me
interessei pelo vídeo e decidi fazer algumas pesquisas. Fiquei encantado
quando a garota listou, entre o desdém e a caricatura, os hábitos de
seus “adversários”: um “mundinho de carros, festas, boates, viagens,
iates, tablets, smartophones e muitas outras coisas”… Descobri,
dedicando algum tempo à questão, que esse “mundinho” é quem, de fato,
patrocina essa peça de propaganda movida pelo ódio. Eu explico.
O vídeo é assinado pela “Rede Nacional da Juventude Negra” (Renajune). Termina com um agradecimento ao Instituto Cultural Steve Biko,
que participou de sua feitura. Esse tal instituto recebeu, em 1999, o
“Prêmio Nacional de Direitos Humanos”. Bom! Tem, entre seus
financiadores, a Chesf (uma estatal), a Worldfund, a Fundação Kellogg, a
CESE e o Instituto Nextel. A Nextel, a Kellogg e a Chesf dispensam
apresentações. A Worldfund é
uma ONG americana que reúne, entre seus 69 financiadores, os seguintes
inimigos do capitalismo e do “consumo da classe média” nojenta: Avon
Products, Inc; Coca-Cola; Credit Suisse; Fundación Televisa; McDonald’s;
Motorola Foundation; Santander e UBS. A CESE
se define como “Coordenadoria Ecumênica de Serviços” e é sustentada por
organizações católicas e protestantes ditas “progressistas”.
Esta é,
aliás, a realidade de boa parte das ONGs que querem mudar,
desinteressadamente, o Brasil: trata-se de entidades fartamente
financiadas por alguns potentados do capitalismo — embora seus
militantes costumem ser anticapitalistas fanáticos, não é mesmo? Tente
saber, por exemplo, quem garante o pão e o circo das milhares de ONGs
que defendem a natureza… A multinacional Nextel, a propósito, vai
começar a concorrer com as grandes da telefonia. Logo estará disputando o
mercado dos smartphones também — para os brancos desprezíveis de classe
média…
É claro
que é possível ser favorável a cotas com bons argumentos, ainda que eu
discorde da tese. É claro que se pode ser contra cotas falando um monte
de bobagem. A escolha de uma posição não condiciona a qualidade do
argumento. Acima, o que temos é a mais clara e insofismável expressão do
ódio. Parece uma guerra por território. Não
por acaso, as últimas palavras da garota são estas: “Agora é tudo
nosso! Tudo nosso!” O objetivo é levar aqueles que eles consideram “o
outro lado” a cometer um erro retórico qualquer para que possam, então,
gritar: “racismo!”
Um vídeo
em que brancos se referissem a negros em termos parecidos seria
denunciado, e o Youtube o retiraria do ar. E os responsáveis ainda
seriam denunciados pelo Ministério Público Federal por racismo. Alguma
dúvida a respeito?
Aos
leitores, um pedido: serenidade nos comentários. À turma do barulho, um
recado: eu não me assusto com correntes na Internet. Ao ódio, respondo
com a razão. E não vou desistir de criticar empulhações como essa.
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