O que realmente querem os índios e o que alguns antropólogos querem que eles queiram…
Já publiquei ontem um texto
sobre a pesquisa Datafolha com índios brasileiros, encomendada pela CNA
(Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil). A VEJA desta semana
traz novos e impressionantes números. Mas, afinal, o que querem os
índios, leitor amigo? Ora, o que queremos todos nós: bem-estar. Ocorre
que uma boa parcela deles, sob a tutela da Funai e da antropologia do
miolo mole, vive muito mal, dependente da caridade do estado.
Nada menos
de 13% do território brasileiro são destinados a reservas indígenas. E
se reivindica ainda mais terra — uma reivindicação de antropólogos, não
dos índios propriamente, que têm outras necessidades e outras ambições.
Reproduzo abaixo trecho do texto de Leonardo Coutinho publicado na revista, entremeado com alguns dados da pesquisa.
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Uma das principais reclamações dos índios é a de não serem ouvidos. De tempos em tempos, eles tingem o corpo de vermelho e negro em sinal de guerra e saem a brandir suas bordunas, arcos e flechas em frente a representantes do governo para chamar atenção para suas reivindicações. Na maioria das vezes, a sociedade brasileira só fica sabendo de suas demandas por meio de intermediários — padres marxistas ou ongueiros que fazem com que os moradores das cidades acreditem que os problemas indígenas consistem em falta de terras e em obras de infraestrutura nocivas ao ambiente.
Uma
pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha a pedido da Confederação da
Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) pôs fim a essa lacuna. É o mais
completo levantamento das opiniões dos índios brasileiros já realizado.
Durante 55 dias, os pesquisadores visitaram 32 aldeias em todas as
regiões do país e entrevistaram 1222 índios de vinte etnias. Trata-se de
uma amostra robusta, maior, proporcionalmente, do que a que costuma ser
usada nas sondagens eleitorais.
As
respostas revelam que os índios têm aspirações semelhantes às da nova
classe média nacional, ou seja, querem progredir socialmente por meio do
trabalho e dos estudos. Eles sonham com os mesmos bens de consumo e
confortos da vida moderna, sem deixar de valorizar sua cultura. Muito do
que é apresentado pelos intermediários da causa indígena como
prioridade nem sequer aparece na lista das preocupações cotidianas dos
entrevistados. “A pesquisa libertará os índios da sua falsa imagem de
anacronismo”, diz a presidente da CNA, a senadora Kátia Abreu (PSD/TO).
Nove em
cada dez índios acham melhor morar em casa de alvenaria do que numa
maloca. Oito em cada dez consideram muito importante ter um banheiro sob
o teto em que vivem, um conforto desfrutado por uma minoria. Quase
metade dos indígenas adoraria tomar uma ducha quentinha todos os dias. O
grupo de índios donos de automóveis e seis vezes a média dos
brasileiros de classes C e D. “Ninguém deixa de ser índio por querer
viver bem. É inaceitável que as regras de como devemos ser continuem
sendo ditadas de cima para baixo sem levar em consideração a nossa
vontade”, diz Antônio Marcos Apurinã, coordenador-geral da Coordenação
das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira, que representa 160
etnias. Segundo Apurinã, por causa da falta de condições adequadas nas
áreas demarcadas, muitas aldeias passam por um êxodo sem precedentes.
Há quatro
anos, 12 500 índios viviam na periferia de Manaus. Hoje, estima-se que
mais de 30.000 vivam apinhados em construções precárias na cidade. Se a
criação de reservas é alardeada como a demanda mais urgente dos povos
indígenas, por que eles as estão abandonando para viver em favelas? Com a
palavra, os índios. O problema mais citado é a precariedade dos
serviços de saúde. Eles se queixam principalmente da falta de
medicamentos farmacêuticos (que eles valorizam tanto quanto os remédios
tradicionais) e de médicos. Em segundo lugar, está a falta de emprego.
“Nós não vivemos mais como nos meus tempos de infância. A nova geração
compreende a vantagem de ter um emprego, uma renda. Ela quer ter roupa
de homem branco, celular e essas coisas de gente jovem. Os governantes
precisam aprender que nossos filhos querem ter tudo o que os filhos do
homem branco têm. Falar português, ir para a universidades e ser
reconhecidos como brasileiros e índios”, diz o cacique Megaron
Txucarramãe, um dos mais respeitados líderes caiapós, de Mato Grosso.
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Leia a íntegra na revista
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