domingo, 16 de setembro de 2012

Porcos e o fim

Relendo alguns escritos meus, topei com esse texto publicado no jornal meio norte, de Teresina. Resolvi compartilhar com vocês.  Um texto engraçado,acho.


Os cineastas foram melhores – talvez por trabalhar com imagens e seus efeitos - numa tradição- ou talvez desejo, sabe-se lá! - atávica nossa de pensar o futuro: a destruição em massa, o esvaziamento do planeta em decorrência de catástrofes.

Os livros religiosos fartam-se com os prognósticos mais sombrios. Chamas. Chamas. Morte. São as “estacas” das religiões modernas. O fim virar para salvar. É o recomeço.

E todo recomeço exige, primeiro, a perda, a desgraça, a punição. Depois, a mansidão, a contemplação perene, a levitação. Tudo alvo, branco. Sem penumbras.

 Sem o mal personificado em tragédias não nos diferenciaríamos. Sem ele, o mal personificado, acho eu, não haveria hierarquia e, por conseqüência, puros e impuros. O que seria de nós?

Pois bem. A gripe suína veio. Os porcos, que um dia já serviram, segundo uma passagem bíblica, de abrigo para os demônios, agora trazem o vírus letal. São os hospedeiros da destruição, novamente.

Depois das aves, das vacas, dos macacos, agora os porcos. Porcaria!!

Enquanto a medicina avança sem medida, propiciando descobertas que nos levarão a uma vida longeva, as novas pragas prometem destruir a raça humana. Não ficará nenhum ser humano para contar a história.

A visão que se avizinha é aquela prenunciada pelas religiões e pelos cineastas: destruição, medo e o fim, inevitavelmente. Ao que parece, a nossa solidão imanente forja esses sonhos apocalípticos. No fundo, bem no fundo, parece que a idéia nos atrai e nos reconforta.

  Parece não haver um presente confortável, até por que o futuro já perdeu o seu charme, afinal a tecnologia já o antecipou sobremaneira.  

A aviária veio e não nos levou. A “louca”, com as vacas, veio e não conseguiu nos alienar. O Ebola veio e não nos sangrou até o fim. A suína chega por meio de espirros e assoados e parece não nos vencer. Escaparemos?!!

Será que mais essa “praga” não será capaz de nos tirar da solidão abissal que nos esmaga desde sempre? Resistiremos aos espirros virulentos que, inicialmente, saíram dos descendentes dos Astecas?

Desconfio que viveremos a contemplar mais e mais auroras. A solidão, “essa pantera”, nos acompanhará e nos humanizará por muito tempo, embora insistamos em cortejar o fim, como forma de nos despirmos de nossas angústias e de nos animarmos a buscar um sentido para essa travessia que, na maioria das vezes, parece tão desnecessária, tão vazia.

Nenhum comentário:

Postar um comentário