sexta-feira, 3 de agosto de 2012

As chances de Iran Morais





Os vícios de nossa política vem de longe. Pra ser mais exato, desde que um português aportou, com sua turma, nestas terras coalhada de papagaios. Aliás, se houvesse uma cultura indígena mais complexa, antes de Cabral, certamente os vícios já estariam lá. Só não estavam porque os nossos índios viviam na idade-da-pedra, não haviam criado um sistema político robusto. Caçavam, pescavam, guerreavam e dormiam. Só.




Se tivessem, os indígenas, a noção de propriedade e de conforto trazida pelas conquistas civilizatórias, exigindo deles a criação de relações sociais complexas, seriam viciados em todos os vícios. Internalizariam a cobiça, a corrupção e todos os pecados capitais. Não tem jeito.


Mas, aos trancos e barrancos, depois da chegada dos colonizadores, passamos a existir como Colônia, Império e República, nesta ordem.


Estamos, pois, aqui: 2012. Alguns vícios - aliás, quase todos -, infelizmente, resistiram ao tempo. Não se perderam com o passar dos anos, não ficaram no meio do caminho. Ao contrário, parecem estar cada vez mais vivos, vicejando pelos quatro cantos desse país continental.


Deixando as análises históricas para os especialistas, olho para o nosso quintal: São Raimundo Nonato. Uso o gancho histórico como introdução para falar de uma candidatura: a do comerciante Iran Morais.


O que fez do nosso país e de nossa cidade, em particular, um desastre administrativo, político e social, foi o domínio político capitaneado por famílias ditas tradicionais. Vicio que nasceu lá atrás e se projetou futuro adentro, como a maioria deles.


A vida pública foi assaltada por uma tradição: só abastadas famílias teriam condições de tocar o destino do povo. Assim se fez, por exemplo, uma cidade como a nossa. Deu no que deu.


A candidatura de Iran Morais, de certa forma, rompe com isso. As famílias Macedo, Ferreira, Castro, Dias, Macário dominaram, praticamente, todos os cem anos que fizeram de São Raimundo o que é. Só há o parêntese aberto, recentemente, pelo o atual prefeito, Herculano, dos Negreiros.


Iran é Morais. Os " Morais" não constam, pois, no catálogo dos "eleitos", dos pré-escolhidos para assumir os destinos da cidade. Não há um "testamento" político que delimite uma parte do "latifúndio" dedicado a eles. A família "Morais", assim como (quase) todas as outras da cidade, não recebeu, de mão beijada, as benesses do poder.


Por isso, a candiatura vai ter que romper uma barreira imensa. Se vencer, faz história; se não, registra o seu nome no rol das tentativas e, de certa forma, abre um capítulo, uma janela na "Casa Grande" governada, desde tempos idos, pelos "Senhores" da política local.


Iran precisa, para vencer, imprimir um ritmo. Tem que mostrar um estilo. Tem que incutir nas pessoas – e são muitas!- que a sua candidatura tem um diferencial, apta a romper com ideias sedimentadas e assentadas por cem anos de práticas políticas.


Há tempo pra isso? É possível num curto espaço de três meses quebrar amarras, convencer corações e mentes de que é necessário interromper, mais uma vez, um ciclo? O candidato tem essa energia contida, latejante em seu espírito? Ou é tarefa pra mais tempo? Ou é um desafio maior do que sua envergadura de cidadão?


Perguntas e perguntas que devem ser respondidas pelo candidato no curso da campanha. Reiventar-se, olhar no olho, convencer os outros e a si mesmo é mais do que um desafio, é um odisseia comparada à dos mitos gregos.


Neto de um padeiro (seu Narciso Belarmino) e filho de um caminhoneiro ( seu Bebeto), pequeno comerciante e uma vontade imensa de entrar na vida pública. Iran aposta nas coisas simples. Na fala simples, sem afetação. Iran aposta na experiência de vida que teve. Aposta e acredita que as coisas mudaram. Que o povo, ah" o povo!, já se cansou de certas cretinices - ( pelo menos foi essa sensação que tive ao conversar com ele recentemente em Teresina).


O personagem que ele precisa encarnar é maior do que ele consegue ser? Ele precisa realmente ser algo mitológico? Ou precisa ser apenas um cidadão de carne e osso, como todos os outros?


A candidatura do comerciante Iran é algo a ser desvendado. Por isso vai exigir muito. A urgência do convencimento – só são três meses- é o desafio maior. Das quatro candidaturas a prefeito, a do Iran é que tem mais indagações.


Não há muitos conselhos a dar. Se eu desse, seria esse: pé na estrada e muita disposição para enfrentar todos os vícios que se imporão nesse caminho tortuoso que há pela frente.


É isso.

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