sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Manual da (in)delicadeza

Manual da (in)delicadeza



Por telefone, a repórter me pede uma entrevista. Honestamente, sempre me surpreende o fato de alguém ainda ter algum interesse pelas obviedades que venho repetindo há meio século. Deve ser problema de pauta. Pedi-lhe que me mandasse as perguntas por e-mail. Chegaram seis perguntas, três delas sobre o mesmo tema: mau humor. A jornalista insistia em saber o que me tira do sério, se sou realmente mal-humorado e, finalmente, por que sou assim. De sacanagem, pensei na hora: se a entrevista fosse ao vivo, na TV, eu a encerraria com uma única resposta: porque quero, e isso não lhe diz respeito. Pronto: estaria assinando o certificado de “casca-grossa” para todo o sempre.

Em Teresina, não são poucos os que acreditam que vivo escoiceando o mundo ou mordendo a orelha da vida até sangrar. “Grosso, arrogante, mal-educado” são atributos que me conferem diariamente. Fazer o quê? Nessa altura da vida, não dá mais para retocar a imagem que fazem de mim. A bem da verdade, nunca fiz o menor esforço para merecer o título de “mister simpatia”. Não estou à venda nem sou candidato a nada. Quem priva da minha amizade – os que me interessam – sabe que não passo de um velho lírico, falastrão e meio destemperado. Nada além.

Vejamos o que me faz um “grosso” nesse mundo de delicados: professor, há mais de 40 anos, sempre tratei meus alunos por irmãos e irmãzinhas; sou incapaz de entrar em qualquer lugar, mesmo num táxi, sem pedir licença; quando pais me “apresentam” filhos pequenos, beijo o pé da criança (não é preciso ser médico para entender meu gesto);quando vou ao aeroporto receber alguém querido, levo flores; quando encontro um bom poema ou uma bela imagem, mando para os amigos, por entender que a beleza só se completa se partilhada; não me sinto desconfortável pedindo desculpas se, porventura, machuco alguém. Finalmente, no portal da senescência, nunca resolvi nada “no braço”. Como se pode ver, não sou a besta-fera que pintam por aí...

Por que então a imagem de “mal-humorado”? Simples: porque não faço tipo, não sou hipócrita, não tenho medo de pensar com a própria cabeça. Acrescente-se a isso a franqueza, a honestidade intelectual, a forma como me expresso, não uso meios-termos. Se me perguntassem: a “fama” de grosso te incomoda? A resposta seria: NÃO. O fato de alguns me considerarem “intratável”, até me faz bem: funciona como uma espécie de escudo que me protege contra a proximidade de pessoas que, efetivamente, não quero perto de mim. Fui claro?

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