Por Reinaldo Azevedo
Dois ministros citam o “Sermão do Bom Ladrão”
No
voto que deu ontem, o ministro Celso de Mello, decano da corte, citou o
Sermão do Bom Ladrão, de Padre Vieira (1608-1697), aquele que o poeta
Fernando Pessoa chamava, com justiça, “o imperador da Língua
Portuguesa”. Nesta quinta, o ministro Ayres Britto referiu-se, mais uma
vez, ao sermão. Lá vai um trecho:
“Não
são só ladrões — diz o Santo — os que cortam bolsas ou espreitam os que
se vão banhar, para lhe colher a roupa; os ladrões que mais própria e
dignamente merecem este título são aqueles a quem os reis encomendam os
exércitos e legiões, ou o governo das províncias, ou a administração das
cidades, os quais já com manha, já com força, roubam e despojam os
pobres. Os outros ladrões roubam um homem, estes roubam cidades e
reinos; os outros furtam debaixo de seu risco, estes sem temor, nem
perigo; os outros, se furtam, são enforcados, estes furtam e enforcam.
Diógenes que tudo via com mais aguda vista que os outros homens, viu que
uma grande tropa de varas (juízes) e ministros de justiça levavam a
enforcar uns ladrões e começou a bradar: “Lá vão os ladrões grandes
enforcar os pequenos.” Ditosa Grécia que tinha tal pregador! E mais
ditosas as outras nações se nelas não padecera a justiça as mesmas
afrontas. Quantas vezes se viu em Roma ir a enforcar um ladrão por ter
furtado um carneiro, e, no mesmo dia, ser levado em triunfo um cônsul ou
ditador por ter roubado uma província.”
(…)
(…)
É nesse texto que Vieira diz que “o roubar pouco faz os piratas”, e o “roubar muito, os Alexandres”.
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