quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Teresina está farta de tantos carinhos

“Precisamos, precisamos esquecer o Brasil! Tão majestoso, tão sem limites, tão despropositado,ele quer repousar de nossos terríveis carinhos. O Brasil não nos quer! Está farto de nós!Nosso Brasil é no outro mundo. Este não é o Brasil .Nenhum Brasil existe. E acaso existirão os brasileiros.”
Procurei inspiração para lançar comentários sobre a campanha de prefeito em Teresina. Como não a encontrei nos candidatos a prefeito que se apresentam, busquei em Drummond o mote, o apelo que me ajudaria a garatujar algumas linhas sobre o processo. 
Após ouvir as promessas em debates televisivos, concluí que Teresina está farta de tantos carinhos, de tantas promessas de afago, de tanta bajulação.
 A promessa de salvar os jovens, os idosos, as criancinhas, os trabalhadores, os estudantes estão na boca de todos os que querem conduzir nossos destinos. Não são candidatos, são redentores,  messias de um novo tempo, de uma nova aurora.
A renúncia ao presente – e, por consequência, às suas complexidades – é um apelo comum aos que só querem gargantear mentiras e promessas falsas de um mundo imaginário, que não está a alcance da política, porque esta é só uma necessidade, e não um caminho apto a nos retirar de pobres pastagens e nos remeter a campos verdejantes.

 Não. Isso é só uma utopia fracassada, como são todas as utopias políticas. A utopia pode servir de alimento à literatura, à arte ou a qualquer outro processo criativo que tenha por fim anunciar e enunciar mundos diferentes dentro do mundo real. Na política, a experiência utópica deu no que deu. Não é preciso enumerar os milhões de mortos que foram esmagados por essa ideia.
Os “nossos” candidatos ancoram suas falas numa verborragia tosca, que pretende ser progressista porque, em tese, busca assistir os desassistidos, tirá-los dos círculos do inferno em que estão imersos.
Os drogados terão casa de recuperação; os desempregados, bolsas assistenciais; os trabalhadores, transporte público de qualidade; os da periferia, calçamentos de boa qualidade, fora água, esgoto, emprego batendo à porta e uma vida mais feliz.
A discussão é sobre quem faz ou fará mais para os que vivem condições de risco. As condições de risco serão riscadas por decreto. E assim se fará uma Teresina mais feliz para acompanhar o Estado, que é uma terra mais feliz de há muito.
A constatação é que as discussões políticas sobre temas fundamentais já não encontram mais espaço na construção de candidaturas. Estão divorciadas do candidato. E eles estão cada vez pior.
Assim, a mesquinhez encontrou seu lugar ideal e transformou a performance dos candidatos num assombroso espetáculo imbecilizado, apto a imbecilizar quem o assiste, restando somente o apelo aos excessos de carinhos prometidos pela língua solta dos que já não têm nada de relevante a dizer.
Teresina está farta de tantos carinhos. Quer repousar deles. E nós, também.
Zeferino Júnior-


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