É, leitor, cada vez mais, o bom negócio é ser índio. Comece a pensar no assunto
Leia trecho de reportagem de Cecília Ritto, na VEJA.com. Volto ao assunto no próximo post.
O
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou nesta
sexta-feira os dados do Censo 2010 referentes à população indígena no
Brasil. Trata-se do conjunto mais completo de dados numéricos sobre
população, etnias, língua, localização e condições de vida dos índios e
daqueles que se declaram como tal – principal contribuição desta fase do
censo. Uma mudança na metodologia permite enxergar, com precisão
inédita, o tamanho da população que, apesar de declarar outra etnia,
simplesmente “considera-se” indígena. Se levadas em conta as respostas
positivas à pergunta “Você se considera índio?”, que constava do
questionário de 2010 aplicado em terras indígenas, o total de índios
brasileiros salta de 817.963 para 896.917 – um acréscimo de 9%, ou
78.954, o equivalente à população da cidade de Ubatuba, no litoral
paulista.
As terras
indígenas, pelo mapeamento feito pelo IBGE, são o local de moradia de
57% dos índios. Os outros 43% dessa população estão nas cidades ou em
áreas rurais fora dos territórios demarcados. De forma global, 36,2% dos
índios habitam áreas urbanas, enquanto 63,8% estão em regiões rurais.
No entanto, há diferenças regionais marcantes. No Sudeste, 80% dos
indígenas estão nas cidades; já no Norte, a situação se inverte: 82%
estão no campo.
O IBGE
considerou necessária a inclusão da nova pergunta ao questionário a
partir do Censo Experimental – a fase de testes com o questionário da
pesquisa. “Em muitas situações, pessoas de uma mesma família de
indígenas se classificavam em diferentes categorias”, detalha a
apresentação de resultados do estudo. Com isso, informações relevantes
sobre etnia e língua – aplicados exclusivamente a quem se declarava
índio – poderiam ficar de fora da entrevista. A partir da mudança, os
pesquisadores puderam, nas terras indígenas, obter respostas mais
precisas.
Declarar-se
índio, no entanto, não é mera questão de identidade cultural. Como no
Brasil as leis atuais permitem que qualquer comunidade seja tratada como
indígena, bastando para isso um laudo antropológico nem sempre
elaborado com o rigor científico desejável, para alguns grupos passou a
ser interessante gozar dessa condição. Dentro das áreas indígenas, só
8,8% (30.691) dos entrevistados não se declaram de etnia indígena nem se
consideram índios. Aos olhos da lei, quem é considerado indígena passa a
ter acesso garantido a terras demarcadas. O Brasil tem hoje 505 terras
indígenas que ocupam uma área de 106,7 milhões de hectares. Dessa forma,
os 817.900 índios que correspondem a 0,4% da população controlam 12,5%
do território brasileiro – área comparável à de Portugal.
Etnias
O censo de 2010 mostrou um ‘boom’ de etnias. No Brasil existem
305, segundo a pesquisa. “A expectativa da literatura, da antropologia,
era de que houvesse cerca de 200 etnias. Estamos chegando talvez à
descoberta de um novo recorte de indígena no país”, afirmou a
pesquisadora do IBGE Nilza Pereira. Foram entendidas por etnias
comunidades definidas por afinidades linguísticas, culturais e sociais. O
detalhe que chama atenção é a pessoa que se declarou indígena e sequer
sabe o nome da etnia a que pertence. Um total de 16,4% dos índios (a
maioria fora dadas terras indígenas) disseram não saber o nome do seu
povo e outros 6% sequer mencionaram a etnia.
O Rio de
Janeiro é o estado com menor população indígena em terras indígenas,
apenas 2,8%. Três estados – Piauí, Rio Grande do Norte e Distrito
Federal – não têm áreas demarcadas como terra indígena. E em outros três
– São Paulo, Sergipe e Goiás, 90% dos índios estão fora dessas áreas de
exploração exclusiva. Dos 14 estados com maior concentração de
territórios demarcados, sete estão no Norte, dois no Centro-Oeste, três
no Nordeste e dois no Sul.
As terras
indígenas com maior população de índios são Yanomami, com 25 mil índios
(ou 5% do total de indígenas do país), Raposa Serra do Sol (17 mil),
Évare I (16 mil), Alto do Rio Negro (15 mil), Andirá Marau e Dourados,
ambas com 11 mil indígenas. No país, em 2010, apenas essas seis terras
indígenas tinham população de índios superior a 10 mil habitantes. A
maioria dessas áreas (57,6%)- 309 terras indígenas, em números
absolutos- abriga uma população entre 101 a mil habitantes.
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