domingo, 1 de julho de 2012

Ahmadinejad e seus guindastes da morte



É curioso, mas até aquele momento eu jamais me dera conta do que significava matar um homem saudável e consciente. Quando vi o prisioneiro pisar de lado para desviar da poça d'água, percebi o mistério, a injustiça execrável de interromper uma vida no auge. Aquele homem não estava agonizando, estava tão vivo quanto nós.

[...]Ele e nós éramos um grupo de homens caminhando juntos, vendo, ouvindo, sentindo, percebendo o mesmo mundo; e em dois minutos, com um estalo súbito, um de nós partiria --uma mente a menos, um mundo a menos.

George Orwell, "Um Enforcamento"
*
A Manhã nasce escura e quente em Robat Karim, cidade-dormitório 30 quilômetros a sudoeste de Teerã, onde uma pequena multidão começa a se aglomerar em frente à delegacia. Uma barreira de metal separa a massa do estacionamento, e os policiais cercam dois caminhões, cada um deles equipado com um imponente guindaste na carroceria.

O burburinho irrompe quando se abre o portão. Homens encapuzados saem do prédio, puxando pelo braço um homem baixinho e grisalho, algemado nos pés e nas mãos; logo mais surge o segundo. Ambos ficam postados ao lado dos caminhões por alguns instantes, sob a mira de câmeras e celulares.

O baixinho parece travado de tensão e não abre a boca. O outro sorri e faz piada com os policiais, que mal respondem.

Sob os primeiros raios de sol, um alto-falante estourado lista as acusações e anuncia a sentença capital contra os dois homens. O primeiro seria um traficante de drogas reincidente. O segundo, técnico eletricista, foi acusado de estuprar mulheres ao ir prestar serviços em suas casas.

O silêncio se instala quando os homens de capuz preto acomodam cada um dos condenados no alto dos patíbulos, improvisados na caçamba dos caminhões com tambores de combustível. O alto-falante agora entoa suratas (versículos) do Corão.

Mãos amarradas nas costas, o primeiro condenado mexe a cabeça até conseguir beijar a corda em seu pescoço. O segundo ergue a cabeça e grita. "Sou inocente, abaixo o regime dos mulás", repete três vezes, gerando um tenso frisson

Folha de São Paulo...

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