quarta-feira, 11 de julho de 2012

"Nem canalha de esquerda nem de direita"


 "Nem canalha de esquerda nem de direita"

Muitos confundem o exercício da crítica com partidarismo. Não entendem que os governos de turno devem ser severamente vigiados por todos: socieade civil, sindicatos, imprensa livre e cidadãos. 

Não percebem que a mistificação na política é o pior dos mundos. Elevar alguém à condição de inimputável, de acima do bem e do mal, de redentor, de imaculado acaba por produzir excrescências. Acabam autorizando a prática do crime como método. Autorizam o roubo, a canalhice, o deboche, o achincalhamento das insituições em nome de um projeto de poder.

Hoje, infelizmente, passamos por isso. Há um grupo que está no poder que pretende vida eterna. E estão porque  há os inocentes úteis. Cidadãos que aceitam ser violados porque acreditam na inviolabilidade do seu Guia, do seu Messias. Mal sabem o mal que estão fazendo. Mal percebem que seus filhos são vítimas adiadas de sua omissão, de sua condescendência.

Exige de você o que não praticam. São incapazes de um exercício de reflexão. Aceitam o achincalhe em nome de uma suposta ideologia tosca, primitiva, que promete um paraíso perdido, um homem pré-civilizacional, longe das "tentações" capitalistas. 

Vivemos num país complicado. Toda fauna partidária orbita em torno do jogo macabro do poder. Um jogo sujo que não perdoa ninguém. Um partido, forjado na luta pelos trabalhadores, supostamente infenso à permissividade e a prostituiçao da vida pública, chegou ao poder para mudar isso. Fez e faz o que faz.

Juntou-se no balaio. Comandado por um homem sem limites, defensor de proto-ditaduras, capaz de dizer barbaridades aos borbotões, de assinar embaixo maracutaias de toda ordem, desde que cometidas pelos seus séquitos, o PT apenas ajudou a piorar o que já era muito ruim. 

Não há partido polítco que escape disso. Fernando Henrique Cardoso, um dos políticos mais sóbrios e importantes desse país, responsável por empreender reformas - Plano Real, LRF, estruturação dos programas sociais etc - foi certeiro, ao proferir uma fala quando do recebimento de uma premiação referente a sua contribuição intelectual para o mundo. Disse ele:

" alianças estabelecidas para os pleitos municipais muitas vezes refletem esta falta de compromisso, pois o interesse dos partidos é pautado por questões provinciais e se resume a “buscar maximizar suas chances eleitorais”. 

FHC resumiu bem todo esse cenário. Isso ele incluiu o seu próprio partido- PSDB, que, assim como os outros, ajudar a transformar esse país num curral. 

Por isso, a admiração desse modestro escriba por esse senhor de oitenta anos, que cometeu seus erros        ( quem não os comete!), mas é capaz de lançar formulações como essas, de uma lucidez e auto-crítica invejáveis.

A leitura de " A soma e o resto ", livro onde ele faz diversas reflexões ao oitenta é um curso de ciências políticas.

Pena que muitos preferem as falas despropositadas de demiurgos, de messiânicos, que já disse que ler causava azia. Que se orgulha da ignorância, na acepção pura da palavra, e faz dela o motor de seu ódio pela cultura democrática e pelas instituições. 

E o pior disso tudo: arregimenta para o seu  "círculo do inferno" corações e mentes incautos que não conseguem enxergar o abismo que estão cavando sob os seus pés. Por mais que vejam, preferem a ilusão de uma mentira muito bem plantada e disseminada. 

Mas, como Nelson Rodrigues, O Grande, já afirmou, numa resposta a uma entrevista conduzida por Clarice Linspector:

 “Eu me recuso absolutamente a ser de esquerda ou de direita. Eu sou um sujeito que defende ferozmente a sua solidão. Cheguei a essa atitude diante de duas coisas, lendo dois volumes sobre a guerra civil na História. Verifiquei então o óbvio ululante: de parte a parte todos eram canalhas. Rigorosamente todos. Eu não quero ser nem canalha da esquerda nem canalha da direita”.

Desse pequeno espaço, dessa pequena trincheira, construímos ideias e as publicamos. Não na intenção de cooptar, de arregimentar seguidores, de convencer. Jamais. Não se convence ninguém. O exercício da escrita é uma atividade solitária, que requer, acima de tudo, convicção. E disposição para enfrentar a turba, as massas, que preferem " parir gênios", a desumanizar pessoas, a fazer muito barulho e pouca luz.

Prefiro, pois, uns fachos diminutos, uma poeirinha de luz que trespasse alguma fresta e chegue até a escuridão que costuma nos engolir.

É isso.

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