Leiam José Maria, o nosso cronista maior.
Cadê o autor piauiense?
José Maria Vasconcelos, cronista,
josemaria001@hotmail.com
Minha esposa aproximou-se com CD de
músicas piauienses, ligou o som e desafiou: "Zé, advinha quem é o autor
dessa música!" Ouvi atentamente, pedi para repetir. Logo me amarrei no
ritmo frenético e na bonita letra. Tentava decifrar a autoria. Só me chegava
nome de bandas de fora. "Não é Zé!!"
Eu, como tantos da
terrinha, sofremos a praga de nos benzermos aos mitos de outras plagas, e de
nenhum "pelo sinal" aos valores locais. Refiro-me, especialmente, à nossa
música. Os daqui só merecem cruz credo como espantalhos de mau-gosto. Música
piauiense só se destaca nas emissoras estatais.
Repare a letra da
música "SUPER STAR", motivo do desafio: "Meu sonho foi sempre
ser artista de cinema / Ter fama em Hollywood, Timon e Ipanema / Andar pela
cidade, todo mundo gritar: / Super, super, super star(bis) / Andar de Cadillac
/ Ter um motorista Jarbas / Ser capa da Manchete, do Times e do Pasquim / Andar
pelas colunas da Elvira e do Ibrahim / Super, super, super star(bis) / Meu
sonho sempre foi o de madame Salomé / Ser assim com os homens, com Nicinha e
Pelé / Ter casa com piscina e morar no Itararé."
Não sei quando o poema foi composto. Se se
trata de um texto recente, melhor, porquanto alude às quimeras do sonho e da
divagação do espírito, montadas com elementos e personagens do passado:Ipanema,
bairro carioca, recanto antigo dos artistas da Bossa Nova e do Cinema Novo;
Cadillac, automóvel chique dos anos 50, 60; Revista Manchete, em que desfilavam
celebridades; Pasquim, tabloide dos tempos de chumbo militar; colunistas
sociais, Elvira Raulino e Ibrahim Sued; Madame Solomé, personagem vivida por
Chico Anísio, exibindo a histérica vaidade de conversar, por telefone, com o
presidente da República, dando pitacos; Nicinha, alienada mentalmente,
costumava se enfeitar de adereços jovens e acompanhar blocos carnavalescos na
Avenida Frei Serafim, anos 60 e 70. Saborosas evocações com magistral
inspiração poética e ritmo quente para dançar.
Senhores radialistas e
diretores de emissoras, em geral,
desculpem ousado desabafo: tomem vergonha na cara: botem a música para
tocar, esta e as de outros artistas. Promovam-nos. Eles não merecem apenas
privilégio de emissoras estatais. Vocês não os apoiam, porque "outros
valores mais altos se alevantam", não no nacionalismo camoniano, mas no de
fora, que oferece ou rateia cachê em promoção de festivais, de muita farofa e
pouca linguiça. Imitem o bairrismo cearense e baiano, onde muitos medíocres
desfilam como celebridades, ocas de qualidade; aqui, aplaudidos pelo faro do
jabá.
Músicos piauienses,
especialmente letristas, em geral, precisam malhar a criatividade, livrarem-se
de frases surradas, elogiosas à cajuína, Teresina menina, fanatismo romântico,
que saco! Ou recorrerem a construções sintáticas obtusas e de abstrações
mentais vazias, em meloso ritmo.
Finalmente, quem é o
autor dessa primorosa música e letra? Você também é de curiar? Vá atrás.
Telefone para as rádios Assembleia, Cultura e Universitária, únicas que soltam
a música piauiense. Exija-lhes nomes dos autores. É lei indicar a autoria de
qualquer criatividade. Neste momento, balanço a cabeça e costas lembrando-me de
SUPER STAR. Deixa estar: hoje pego minha mulher noutra ginga. Ela sabe de cor e
salteado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário