José Maria é uma das minhas leituras prediletas. Escreve como ninguém. Sabedor das coisas, maneja a língua com uma destreza de dar inveja. Vou republicar no meu blog algumas de suas criações. Ele escreve nos jornais da capital. É professor, educador e cronista do tope dos grandes que escrevem na imprensa nacional. Vale a pena.
8-7-12
Escorregões no português
José Maria
Vasconcelos
Rádio Assembleia
Tornei-me fã do
programa de músicas piauienses da Rádio Assembleia, a partir das 8 da manhã.
Bandas e músicas de ritmos quentes, de fazer sacolejar nem que seja a cabeça.
As letras, nem falo, a maioria de ótima inspiração e qualidade. Quer saber a
verdade? Eu não sabia que proliferam tantos talentos meio a bando de porcarias,
especialmente alguns forrozeiros, cujos inspirados "artistas" merecem
ação do Ministério Público, inclusive contra radialistas que promovem a
safadeza com metáforas de evocação à droga e álcool, debochando da liberdade de
expressão.
SUPER STAR
Quer escutar e pular
com amigos bonita música e poesia piauienses? Não citarei o(s) autor(es) de
SUPER STAR, porque não o(s)conheço, por conta da Rádio Assembleia, como outras,
que cometem o crime(sim, crime) de não citar autoria, como é exigido nas artes
em geral. Bote o som bem alto, ouça e pule:
"Meu sonho foi
sempre ser artista de cinema / Ter fama em Hollywood, Timon e Ipanema / Andar
pela cidade, todo mundo gritar: / Super, super, super star(bis) / Andar de
Cadillac / Ter um motorista Jarbas / Ser capa da Manchete, do Times e do
Pasquim / Andar pelas colunas da Elvira e do Ibrahim / Super, super, super
star(bis) / Meu sonho sempre foi o de madame Salomé / Ser assim com os homens,
com Nicinha e Pelé / Ter casa com piscina e morar no Itararé."
Não sei quando o poema foi composto. Se se
trata de um texto recente, melhor, porquanto alude às quimeras do sonho e da
divagação do espírito, montadas com elementos e personagens do passado:Ipanema,
bairro carioca, recanto antigo dos artistas da Bossa Nova e do Cinema Novo;
Cadillac, automóvel chique dos anos 50, 60; Revista Manchete, em que desfilavam
celebridades; Pasquim, tabloide dos tempos de chumbo militar; colunistas
sociais Elvira Raulino e Ibrahim Sued; Madame Solomé, personagem vivida por
Chico Anísio, exibindo a histérica vaidade de conversar, por telefone, com o
presidente da República, dando pitacos; Nicinha, alienada mentalmente,
costumava se enfeitar de adereços jovens e acompanhar blocos carnavalescos na
Avenida Frei Serafim, anos 60 e 70. Saborosas evocações com magistral
inspiração poética e ritmo quente para dançar.
Senhores radialistas e
diretores de emissoras, em geral,
desculpem ousado desabafo: tomem vergonha na cara: botem a música para
tocar, esta e as de outros artistas. Promovam-nos. Eles não compõem só para
emissoras chapa branca. Mas vocês não lhes estendem a mão, porque os de fora
pagam ou dividem cachê com festivais, muitas vezes, por farofa e pouca
linguiça. Imitem o bairrismo cearense e baiano, onde muitos medíocres desfilam
como celebridades, ocas de qualidade, e aqui, vocês os aplaudem porque é farto
o jabá.
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