segunda-feira, 23 de julho de 2012

Uma leitura de Maquiavel por Alexandre Rocha

Lendo a Maquiavel para as eleições municipais


Depois de Maquiavel, a política jamais foi a mesma. Ele a despiu na frente de todos. Para alguns, foi uma visão apetitosa. Para outros, repugnante. Seja como for, ele revelou que todos nós dependemos do leite que escorre dos peitos da mãe política. Por isso, Maquiavel foi considerado um pensador maldito. Mas ele só foi realista.

Faço essa breve reflexão para analisar as eleições municipais que se avizinham. Convido-os a mirar o processo eleitroral de muitos municípios brasileiros, principalmente dos recônditos, com os olhos de Maquiavel. Se se olharmos bem, isto é, se formos realistas, vamos encontrar nessas eleições: promessas, clientelismos e ilusões.

Dessa maneira se passa a cena eleitoral desses dias, segundo uma visão maquiavélica.

Por todos os lados há candidatos com sorrisos largos e eleitores dispostos a receberem tapinhas nas costas. Os candidatos agora tomam cachaça em boteco, caminham pelas ruas, abraçam pessoas, postam mensagens no Facebook. Os eleitores são disputados.

Todavia ao fim das eleições, os candidatos desconhecem os eleitores. As promessas que antes eram certas, agora são remotas. A felicidade dos candidatos ao flertarem os eleitores, agora é uma tentativa de fuga. Tudo voltou ao normal. O eleitor perdeu seu valor. A política voltou à realidade.

Essa é uma análise realista da política. Digo que ela é tão mais verdadeira quanto mais particular é a eleição e quanto menor for a unidade eleitoral. Por causa disso, nas eleições dos pequenos municípios candidatos e eleitores apostam tudo. O que o candidato tiver, oferece. O que o eleitor conseguir, toma.

As eleições municipais são a prova de fogo da política. Por dois motivos. Primero, porque nelas há mais encontros e desencontros entre candidatos e eleitores. Com efeito, as propostas dos candidatos têm de atenderem às necessidades imediatas dos eleitores. Segundo, e como consequência do primeiro, porque nessas eleições se observam com mais frequência o clientelismo.

Qualquer candidato que pretenda ser eleito para um cargo municipal, tem de contar uma boa rede de seguidores, de assessores, de cabos eleitorais, enfim, de clientes. Essas são as pessoas que o candidato já ajudou em alguma ocasião ou prometeu fazer caso eleito. O tamanho e a intensidade dessa rede pode conduzir ao resultado positivo na eleição.

Por mais que um candidato se desdobre percorrendo os quatro cantos de um município, não terá condições de ocupar todos os lugares. Aqui entra o papel da rede de aliados. São eles que levam o nome do candidato aonde ele não pode estar. Eles são olhos, bocas, ouvidos, pernas, mãos dos candidatos. O bom político sabe disso.

Uma vez eleito, é natural e racional que o político premie seus aliados com cargos e favores na administração pública. O eleitor que almeje algum ganho próximo do processo eleitoral tem de estar na rede do político eleito, senão poucas chances terá de receber algum benefício. O eleitor consciente sabe disso.

Daí o clientelismo não é um mal da política. Ele é a regra, sobretudo, nos pequenos municípios. Neles dificilmente há eleições sem clientelismo. Candidatos buscam alianças, fazem promessas, trocam favores, movem a máquina partidária, ou seja, fazem de tudo para fortelecer sua rede. Por sua vez, eleitores mais ativos lutam para entrar formalmente numa dessas redes.

O clientelismo é uma via de mão dupla. O candidato que dispõe de alguma rede, tem recursos de poder. O eleitor que faz parte de alguma rede, pode usufruir desse poder. Nesse jogo, candidatos e eleitores se complementam. Não há necessariamente corrupção, mas cooperação. Assim, a política favorece aos mais organizados.

Para a grande maioria dos eleitores que não são protegidos por alguma rede clientelística, resta os lampejos eleitorais. Aqui as esperancas se restauram, pois o eleitor novamente é notado e tem a chance de obter algum favor ou quem sabe conquistar espaço numa rede. O demais, é só ilusão.

Lendo melhor a Maquiavel poderia acrescentar algo mais, contudo vou parar por aqui antes que me tachem de maldito também.

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