sábado, 7 de julho de 2012

"Estado baby-sitter"

Em Paraty, João Pereira Coutinho rejeita "Estado baby-sitter"


DO ENVIADO ESPECIAL A PARATY

Em debate nesta sexta-feira (6), na Casa Folha na Flip, em Paraty, o jornalista e colunista da Folha João Pereira Coutinho afirmou que sua opção pelo conservadorismo na política se deve, entre outras razões, à recusa de que o Estado tenha "posição moralista, de professor ou baby-sitter" dos cidadãos.


Coautor, ao lado de Luiz Felipe Pondé e Denis Rosenfield, do recém-lançado "Por que Virei à Direita" (selo Três Estrelas, do Grupo Folha), que autografou ao fim do encontro, Coutinho iniciou o bate-papo com um chiste. "Não vou resumir o que escrevi [no livro], até por uma razão capitalista: quero que as pessoas o comprem."

Definindo sua adoção ao pensamento liberal como "gradual doença", ele explicou que a busca pela tolerância está na raiz da preferência. "Foi uma questão de tolerância, a ideia de que não cabe ao Estado dizer como você deve viver, usar o seu dinheiro, organizar a sua vida. Acho que cada pessoa é o melhor juiz de sua causa."

Ele citou o pensador liberal inglês John Locke (1632-1704) como uma de suas principais influências neste ponto.

Adriano Vizoni/Folhapress
O escritor e colunista da *Folha* João Pereira Coutinho participa de debate na Casa Folha, na 10ª Flip, em Paraty
O escritor e colunista da Folha João Pereira Coutinho participa de debate na Casa Folha, na 10ª Flip, em Paraty    
 
GIGANTISMO DO ESTADO

Para Coutinho, a atual crise econômica na Europa "é a crise do papel do gigantismo do Estado. Na Grécia os funcionários tinham 15 salários por ano".

O colunista rejeitou a dicotomia entre esquerda e direita, tratando-a como "falsa discussão". "A distinção é entre democratas e antiautoritários e antidemocratas e autoritários", categorias que, disse, existem tanto na direita quanto na esquerda. "George Orwell foi muito importante em minha formação, e era de esquerda."
Questionado pelo mediador Paulo Werneck, editor da "Ilustríssima", sobre a importância de Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), Coutinho disse achar o franco-suíço um filósofo "perigoso". "Sua filosofia se assenta numa ficção, de que os homens viviam harmoniosamente na natureza e que a propriedade privada acabou com isso".

"Quando ouço um grande humanista falar no amor pela humanidade, normalmente estamos diante de um canalha."

Coutinho evocou ainda Adam Smith e Voltaire, que segundo ele compreenderam a "função civilizadora do capitalismo". "O capitalismo tende a fazer com que as pessoas, ao pensarem em seu próprio interesse, acabem por ter comportamentos em sociedade que são muito mais civilizatórios."
 
IMPRENSA

Um espectador questionou Coutinho sobre a posição dele no debate da regulamentação dos órgão de imprensa, "num país onde a mídia é comandada por sete famílias". A pergunta foi aplaudida por parte da plateia.

O colunista disse que "o pior que pode acontecer numa sociedade é a ideia de que têm que existir vários jornais. Isso significa que cada um deles vai ter menos força. E aquilo que o poder político quer é precisamente uma imprensa diversificada, mas que não tenha tanta força."

"Quando você quebra o poder dos órgãos de comunicação, você está fazendo um favor ao governo", afirmou Coutinho.

A palestra de Coutinho na Casa Folha em Paraty foi sucedida por outra do filósofo e colunista da Folha Vladimir Safatle, que autografou no local o seu livro "A Esquerda que não Teme Dizer seu Nome".

Nenhum comentário:

Postar um comentário