terça-feira, 3 de julho de 2012

Cineas, o artífice das coisas impossíveis






Cineas santos




 
Com a autoridade de quem passou a vida inteira fazendo o que de melhor se produziu em matéria de humor no Brasil, Millôr Fernandes afirmava: “O humor é a quinta-essência da arte”. Não era apenas mais uma tirada genial do filósofo do Meyer; é a mais legítima expressão da verdade. Fazer rir é tarefa das mais nobres e, acima de tudo, das mais complicadas, principalmente num país onde não faltam motivos para nos fazer chorar. Curiosamente, fazemos humor até com as pequenas e grandes mazelas que nos afligem.

Foi assim que, em plena ditadura militar, numa mesa de bar, José Elias Arêa Leão, Kenard Kruel e Albert Piauí resolveram criar o Salão de Humor do Piauí. Para muitos, “apenas uma piada”. Por que um salão de humor no Piauí se já existia o de Piracicaba? A resposta não poderia ser mais óbvia: porque o de lá não era nosso e poucos dos nossos poderiam visitá-lo. A ideia foi imediatamente encampada por Lapi, que se tornou uma espécie de “embaixador do Salão” no eixo Rio-São Paulo. Em curtíssimo espaço de tempo, os teresinenses adonaram-se do Salão que se tornou o xodó da cidade. Nenhum outro evento na área da cultura conseguia atrair tanta gente. Mais que uma simples exposição de desenhos de humor, o Salão de Humor do Piauí tornou-se uma mostra significativa da cultura piauiense. Da culinária ao teatro, todas as manifestações culturais foram contempladas. Em matéria de diversidade, o nosso era imbatível.

Por aqui passaram todos os grandes humoristas brasileiros, de Millôr a Borjalo, os irmãos Caruso, Ziraldo, Jaguar e “os filhotes do Pasquim”, como diria Dodó Macedo. Tornou-se um salão internacional , atraindo desenhistas até do Cazaquistão. Em média, 500 trabalhos eram enviados ao Piauí, o que tornava o trabalho de seleção extremamente complicado.

Com o tempo, por razões as mais diversas, o Salão Internacional de Humor do Piauí foi definhando, perdendo importância. Na 25ª edição, que se esperava uma festa extraordinária, já não passava de uma caricatura do que fora.Tornou-se apenas um salão como tantos outros. A despeito disso, ainda pulsa, resiste, sobrevive a duras penas. Nesta edição, a 29ª, entre as poucas atrações, figura uma belíssima exposição de Jota A, o mais premiado dos cartunistas brasileiros. Em boa hora, os organizadores do evento homenagearam Nonato Oliveira, uma referência nas artes plásticas do Piauí. É fácil criticá-lo, apontar erros, mas isso em nada contribui para melhorá-lo. Precisamos revitalizá-lo e devolver-lhe o brilho que o caracterizava. Mesmo debilitado, o Salão continua a merecer o carinho dos piauienses. Longa vida ao Salão do povo do Piauí.

Um comentário:

  1. Conheci o José Elias Área Leão no Salão de 1989. Tivéram a feliz ideia de fazer uma oficina de história em quadrinhos. Os dois ministrantes eram paulistas e nos incutiram a vontade de fazer aqui um Núcleo de Quadrinhos. Fizemos. Zé Elias deu todo apoio. Até nos cedeu um espaço para fazermos as reuniões abrirmos um sebo em sua agência de viagens. No ano seguinte conheci o J. A. Na oficina daquele ano. Foi o único cartunista bom que eu vi no Piauí (bom de texto e de desenho) até recentemente, quando surgiram outros. O Cinéas é de outro naipe. Ele não é uma pessoa fácil, mas fez mais por nossa cultura que muito nego abestado e convencido por aí. O texto me trouxe lembranças.

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