sábado, 28 de julho de 2012

As chances de Herculano





Era 1996. Um ano como qualquer outro. A paroquial São Raimundo vivia sua vidinha de sempre. Não sabia, porém, que naquele ano um fato político iria abrir uma janela para uma ideia que se perpetua até hoje.

A ideia, na verdade, era um homem. Um padre, de nome Herculano, que havia chegado à cidade por volta de 1992, de onde ele havia saído há muito tempo para se ordenar. Com um discurso político fervoroso – misto de ataques a problemas políticos e estruturais, em concurso com o apelo religioso –, projetou-se como uma via de acesso a outra São Raimundo possível.
A sua primeira campanha política disputada foi feita com apelos messiânicos e uma impressionante adesão sistemática de jovens. Um novo horizonte político começou a ser forjado. Uma revolução. À época, a cidade passava também por algumas mudanças comportamentais.

O reggae, estilo de música ligado à rebeldia, com um forte traço de libertação, foi o ritmo que embalou parte daquela juventude, que ansiava por mudanças. Estava, então, preparada a ruptura. Era hora de romper um modelo fadigado, que tanto comprometia o presente da cidade como anunciava o assalto ao futuro.

As famílias Macedo e Castro, rivais e, às vezes , aliadas ao Grupo Ferreira, revezavam-se no poder desde os tempos mais remotos. Não havia ali, em tese, possibilidade de rompimento dessa hegemonia.

Herculano veio, viu e venceu – derrotou o candidato Isaías, médico escolhido pelos Ferreira. O dia da vitória foi tão marcante que até hoje ainda é revivido com nostalgia e emoção por quem o presenciou. Ali iniciava uma trajetória longa de homem público que, gostem ou não, marcou definitivamente a história política da cidade.

Os anos se passaram. Herculano perdeu a reeleição em 2000, para Avelar Ferreira. Depois concorreu de novo, em 2004, após assumir a campanha já no final. Nova derrota. Em 2008, voltou e, novamente, venceu, pela segunda vez, um candidato ligado ao grupo Ferreira.

Há quem aponte avanços nas duas vezes que Padre Herculano geriu São Raimundo. Na atual gestão, por exemplo, há elogios referente ao aumento da arrecadação, à renegociação de dívidas milionárias contraídas em governos passados, à organização do trânsito, que tornava o centro da cidade num caos sem precedentes e no compromisso com o pagamento de fornecedores, artigo de luxo na região.

De outra banda, há críticas ferozes vertidas pelo meio político e social. Centralizador, com pouca habilidade para criar as condições políticas necessárias para tocar um projeto político duradouro, sisudo e influenciável por aproveitadores. Além disso, não costuma criar, após eleito, um liame, uma ponte entre ele e o povo. Prefere o ambiente de gabinete, burocrático, que acaba por afugentar grande parcela da poupulação e dos que ajudaram a criar as condições de sua eleição.

Nos últimos meses do mandato, vereadores opositores abriram uma CPI para investigar denúncias sobre gestão na saúde do município, além de ter sido bastante criticado por conta da realização de uma polêmica licitação sobre o esgotamento sanitário, que está em curso.

Herculano parte para sua quinta eleição em São Raimundo. Vai sem um leque partidário para lhe dar suporte. Com chapa pura - PT e PT -, e com problemas judiciais a serem resolvidos, Negreiros vai para mais um desafio na sua vida política e, talvez, o último.

Há o desgaste natural. Há o isolamento.Há dificuldade de toda ordem. Os desafios estão postos. As cartas, na mesa. O futuro, como diz o batido ditado, a Deus pertence.

Só resta esperar se ainda há saída. Se é possível "converter" e arrebanhar eleitores para sua causa, causa esta que provocou, há quase vinte anos ,uma ruptura, um hiato na tacanha vida política de São Raimundo Nonato e fez um rebuliço que, de certa forma, dura até hoje.
O ciclo está chegando ao fim? Só os três meses vindouros vão responder. A ideia pode estar se apagando ou pode estar se renovando. A conferir.


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